terça-feira

RECADO INICIAL

POSTAGEM DE 23.12.2008
(Mensagem de Flávio Faria) – Estamos prontos para mais essa expedição! Vamos pegar a estrada no dia 25 de dezembro, em pleno Natal de 2008.
Desta vez somos 4 casais na intenção de trafegar pela América do Sul até seu ponto mais austral: a municipalidade de Ushuaia, na Argentina, também conhecida como a “cidade do fim do mundo”, por ser a última em território americano antes do Continente Antártico. Serão aproximadamente 16.000 km por rodovias pavimentadas e não-pavimentadas através do Brasil, Uruguai, Chile e Argentina. Atravessaremos as pitorescas regiões da Patagônia, da Terra do Fogo, da Península Valdez, parte considerável dos Andes, dos Lagos Andinos, do Estreito de Magalhães e do Canal de Beagle, dentre muitas outras. Os homens sairão de Brasília em 4 motos (3 XT660 e 1 TDM900, todas da Yamaha) no dia 25, enquanto que as mulheres irão até Buenos Aires de avião no dia 29 de dezembro, e lá assumirão as garupas.
Viajar, para nós, tem sido uma forma recorrente de aperfeiçoar nosso espírito. Manter contato com outras culturas, conhecer novas localidades, compartilhar da amizade e dos prazeres de uma viagem como esta, nos permitirá voltar para casa com a alma mais lapidada, com o coração mais sensível e com a nossa paixão mais intensa pela vida, pelos amigos, pela família e pelo planeta que nos abriga. Depois de 11 meses de planejamento e de preparação, acho que estamos no ponto! Motos revisadas, condicionamento físico em dia, bagagens preparadas para todas as temperaturas. Mandaremos notícias no transcorrer da viagem, atualizando este blog de onde for possível. FELIZ NATAL PARA TODOS E ATÉ JÁ!
(basta clicar na foto para ampliá-la)
(fotos do grupo em Brasília, antes da partida)

DE BRASILIA A BUENOS AIRES


25.dez.2008, quinta-feira – Primeiro dia – de Brasília a Ribeirão Preto (SP) – 726 km rodados desde Brasília – Das 9h40 até às 20h30. Tempo total: 10h50 de pilotagem.

(Mensagem do Flávio Faria) – Vou itemizar para ser mais objetivo:
a) Saída de Brasília – deixamos nossa cidade às 9:40h, partindo do posto de gasolina da Candangolândia. Cerca de 25 amigos e parentes compareceram para despedir. Acho que vai ser duro ficar 31 dias longe deles, particularmente dos filhos. Depois de muitos abraços e beijos, demos por iniciado o projeto Xshuaia 2009 dentro do horário previsto. Amigos motociclistas nos acompanharam nos primeiros 50 km da rodovia, passando-nos uma sensação de companheirismo e de acolhimento. Paulo Amaral e Gilson Wander (meus parceiros mais constantes de outras viagens), Mineiro, Alex Luzardo e Fábio (irmão do Gláucio) estavam entre eles.
b) Chuvas – não demorou muito para que a chuva nos pegasse pelo caminho. Inicialmente, foram 3 pequenos trechos com pancadinhas leves. Nas proximidades de Araguari (MG), fomos surpreendidos por um temporal típico de verão, fortíssimo, que nos obrigou a nos proteger por cerca de 50 minutos sob a marquise de um posto de gasolina. Antes de parar, tentamos avançar sob o forte aguaceiro, mas eu, Zael e Dino enfrentamos pequenas derrapagens nas curvas. Não teve jeito! Tivemos que interromper a viagem até a chuva ceder. No total, creio que pilotamos algo em torno de 250 km em piso molhado e escorregadio. Sobrevivemos a ele!
c) Temperatura – em todo o trajeto até aqui convivemos com variações térmicas entre 19 e 26 graus. Essa temperatura amena é importante para nós, porque quanto mais quente o asfalto, maior o desgaste dos pneus. A durabilidade desses equipamentos é sempre uma incógnita para quem viaja de moto. Temos esperança que os nossos dêem conta de ir e voltar de Ushuaia sem necessidade de troca, mesmo considerando que temos 16.000 km a percorrer (o meu pneu traseiro já havia rodado 3.500 km quando saí de casa).
d) Em Ribeirão Preto – curiosamente, pela terceira vez consecutiva em viagens longas, paro para dormir em Ribeirão Preto, no mesmo hotel, uma espelunca chamada Saint Remy, que nos custou r$ 35,00 o pernoite em quarto individual. Sempre faço uma piadinha a respeito da necessidade de hidratação numa viagem como esta. Todos sabem que em Ribeirão existe a famosa choperia Pingüim e é sempre lá que cuidamos desta parte, açambarcando muitas tulipas de chope gostoso e gelado. Depois desse procedimento, digamos “hidratativo”, só nos resta cair nos braços de Morfeu e nos preparar para mais um longo percurso no dia seguinte.
e) Fechamos o dia com 130 km rodados a menos que o planejado.

(fotos na choperia Pinguim e na estrada)

26.dez.2008 – sexta-feira – segundo dia – de Ribeirão Preto a Itajaí (SC) - 894 km rodados no dia. 1620 km desde Brasília. Das 7h40 até às 20h40. Tempo total: 13h de pilotagem.

(mensagem do Flávio Faria) - Hoje cruzamos grande parte do estado de S. Paulo e todo o Paraná. Chegamos em terras catarinenses, de onde escrevo da cidade de Itajaí. Estamos numa hospedaria modesta, o hotel Silva (R$ 25,00), que também foi vitimado pelas enchentes de novembro passado, decorrentes das chuvas excessivas que arrebataram toda essa região de Santa Catarina. A água por aqui chegou a 1,5 metro da parede dos quartos. Em Itajaí fica um dos principais portos brasileiros, por onde escoa parcela considerável das nossas exportações. Os prejuízos da cidade com a enchente foram enormes!
Novamente a chuva nos acompanhou por cerca de 120 km. Nada em grande intensidade, mas nos incomodou bastante. O pior trecho de hoje foi os 30 km não-duplicados da rodovia Régis Bittencourt (BR 116), ainda em S. Paulo. Gastamos 50 minutos para atravessar essa pequena quilometragem. Parece inacreditável que isso ocorra em plena rodovia federal, mas foi fato! Muitos caminhões, muitas curvas e chuva persistente. Combinação desagradável para quem está na estrada sobre duas rodas.
Quando adentramos o Paraná o céu abriu de vez. Sol e calor, enfim! Viemos tranqüilos até aqui acelerando forte, mesmo considerando que a BR 101, em S. Catarina, está com movimento descomunal de automóveis. Também pudera: sexta-feira, feriado, verão, praias maravilhosas... todos querem aproveitar!
(foto na divisa SP/PR)

 27.dez.2008 – sábado – terceiro dia – de Itajaí (SC) a Bom Princípio (RS) - 735 km rodados no dia. Das 6h56 até às 22h10. Tempo total: 15h14 de pilotagem. 2.355 km desde Brasília.
(Mensagem do Flávio)
a) O dia das trapalhadas – Se fôssemos 3, diria que demos uma de “Três Patetas” no dia de hoje, mas como somos 4, acho que batizar a nós mesmos de “Los 4 Panacas” seria mais adequado. Conseguimos nos perder uns dos outros por 5 vezes apenas neste trecho. Uma façanha digna de constar do Guines, o livro dos recordes. Não vou entrar em minúcias de como isso se deu, mas ressalto que perdemos muito mais de 2 horas de viagem nas tentativas de reagrupamento da expedição. Muitas discussões e bate-boca entre nós! Se não tivéssemos forte relação de amizade, creio que o grupo já teria se desfeito. Fechamos o dia com 360 km de atraso em relação ao planejado.
b) No litoral – a chuva sumiu de vez do nosso caminho. Transitamos por muitas horas bordeando o litoral catarinense. Um cenário fantástico! Floripa, Ibituba, Garopaba e outras localidades maravilhosas passavam à nossa esquerda, obrigando-nos a parar por dezenas de vezes e fotografar suas belezas.
c) Serra do Rio do Rastro e Serra Gaúcha – fizemos pequena alteração no nosso roteiro original e seguimos por Lages, depois de passar pela Serra do Rio do Rastro http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157607993709420/show/), que é considerada por muitos especialistas em turismo o trecho de rodovia mais bonito do Brasil. Considerando este trecho e a Serra Gaúcha, foram cerca de 500 km através curvas fechadas. O teste de pilotagem mais longo por que passamos em nossas vidas. A dificuldade do trajeto não é aconselhável aos novatos. Apesar dos muitos obstáculos, valeu a pena conviver com as belezas indescritíveis das montanhas, da vegetação e das cidadelas por onde passamos.
d) Paramos para dormir em Bom Principio (RS), cidade que tem nome bastante propício para rediscutirmos nossa estratégia de viagem, haja vista que o dia de hoje foi muito desgastante por conta da lentidão e das trapalhadas. Depois de 15 h sentados no banco da moto para rodar apenas 735 km, sentimos que era hora de mudar alguma coisa. Fechamos compromisso entre nós de, a partir de amanhã, colocar em prática tudo o que não fizemos nos primeiros 3 dias de viagem.

(fotos da Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina)


  28.dez.2008 – domingo – quarto dia – de Bom Princípio (RS) a Atlântida (Uruguai)- 920 km rodados nesta dia. Das 7h30 até às 23h. Tempo total: 15h30 de pilotagem. 3.275 km desde Brasília, sendo 305 km no Uruguai.
a) Atravessamos a fronteira do Chuí com 2.970 km rodados desde Brasília, às17:45h, sob calor de 40 graus. Passamos pela belíssima região dos Pampas Gaúchos e o Banhado do Taim. Um dia lindo, de muito sol e calor. Senti sono nos momentos mais quentes do dia. Desde o dia 24, véspera de Natal, não consigo dormir além de 6 h por noite. Ainda bem que teremos 3 dias inteiros de descanso em Buenos Aires a partir de amanhã. Nas proximidades do Taim conhecemos um ciclista carioca, Juarez Costa, que está há 6 anos na estrada viajando sem rumo.
b) Tanquinho merreca da XT – a Yamaha quando fez a XT660, conseguiu produzir uma moto com pouquíssimos defeitos. O pior deles, sem dúvida, é o tamanho do tanque, de apenas 15 litros. Isso equivale a uma autonomia de menos de 2 h de viagem. Eu e Zael trocamos nosso tanque por um maior, porém a moto do Gláucio encontra-se com o equipamento original de fábrica. Por conta desse detalhe, nosso amigo Gláucio ficou sem gasolina no meio do Banhado do Taim e teve que fazer uma chupeta do tancão do Zael. Isso aconteceu logo depois de receber uma multa por ultrapassar em faixa contínua.
c) Adentramos o Uruguai pelo Chuí. Trocamos reais por pesos e dólares no meio da rua, com um cambista que trabalhava no estacionamento de um cassino da cidade, do lado uruguaio. Fizemos os procedimentos da aduana e lá fomos nós. O calor estava infernal! Seguimos pela rodovia uruguaia, uma reta sem fim de asfalto impecável. Uma planície extensa com altitude em torno de 100 metros acima do nível do mar. Um ventinho maroto balançou as motos por mais de 50 km. Foi um avant-premiere em menor intensidade do que vamos encarar lá embaixo nas terras do Fogo e da Patagônia.
d) Entramos rapidamente em Punta del Este na intenção de pegar a rodovia que margeia o oceano até Montevidéu. Triste opção! Enfrentamos engarrafamento monstro dentro de Punta que nos obrigou a retornar 40 km para a rodovia principal (ruta 9). Escureceu por volta das 21h e a noite nos pegou pelo caminho. Um trânsito imenso nas imediações de Montevidéu não nos permitiu manter boa média horária. Não teve jeito! Paramos em Atlântida, a 60 km antes da capital uruguaia, e só conseguimos hotel às 23h (hotel Colonial, a US$ 40 por apartamento duplo). Hoje foi o dia mais longo de todos: superamos 15h de estrada e, novamente, não conseguimos cumprir nosso plano inicial, que era dormir em Montevidéu. Sem problema: planejamento é planejamento; viagem é viagem!
e) A velocidade nas rodovias uruguaias varia entre 110, 90 e 60 km. Claro que só existe policiamento nos trechos de 60 km. Passamos por 2 patrulhas da policia camiñera uruguaia escondidas atrás de uma ponte e de uma lombada. Demos sorte de não sermos multados. Tivemos muito cuidado com a velocidade nos trechos mais lentos depois que fomos alertados por um brasileiro que conhecemos num posto de gasolina.
(fronteira Brasil/Uruguai e pôr-do-sol em Punta del Este)



29.dez.2008 – segunda-feira – quinto dia – de Atlântida (Uruguai) a Buenos Aires (Argentina). 273 km rodados neste dia. Das 8:30h até às 13:30h. Tempo total: 5h de pilotagem. 3.548 km desde Brasília, sendo 560 km no Uruguai e 18 km na Argentina.Saímos de Atlântida em direção a Colônia del Sacramento, onde pegamos o Buquebus, ferryboat que atravessa o rio Prata até Buenos Aires. Optamos pelo expresso, que leva cerca de 45 minutos de travessia, com saída às 13:45h, ao preço de 1.400 pesos uruguaios, aproximadamente R$ 155,00. Durante o trajeto, conhecemos o casal Fred e Gabriela, de Belo Horizonte, que também está indo para Ushuaia (de automóvel) e outro de Sampa, Fernando e Rosana, que viaja numa moto Kavasaki Vulcan 1500cc para Mar del Plata.
Chegamos a Buenos Aires às 14:30h e decidimos trocar o óleo das motos antes de ir para os hotéis Orly e América Estúdios, onde tínhamos reservas. Essa operação durou até às 18h. Nossas companheiras: Rosane, Aline e Neila chegaram ao hotel antes da gente, por volta das 16h e nos esperavam ansiosas, sem saber ao certo a razão da nossa demora. Cássia, esposa de Zael, vai nos encontrar em Ushuaia, no dia 6. Dino e Neila estão em hotel diferente do nosso e saíram para dançar e comer. O resto da turma foi dormir cedo sem nenhum programa noturno neste nosso primeiro dia em Buenos Aires. Amanhã vamos botar pra quebrar!
30.dez.2008 e 31.dez.2008– terça e quarta-feira – sexto e sétimo dias – parados em Buenos Aires
Utilizamos os 3 dias em Buenos Aires para ficar um pouco longe das motos e passear muito http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157607993717902/show/). Estivemos nos bairros da Ricoletta, Boca, San Telmo, Retiro e Puerto Madero, degustando paellas, bifes de lomo e de chorizo (contra-filé), parilladas, de bons vinhos e da tradicional cerveja Quilmes. O grupo se separou em alguns desses passeios para que cada um desfrutasse da melhor forma a presença das esposas e companheiras.
No dia 31 planejamos um ano-novo bem conservador, sem avançar muito na madrugada. Pretendemos sair de Buenos Aires com destino a Bahia Blanca por volta das 9h da manhã do dia
primeiro.
(fotos no "Caminito", no bairro da Boca, em Buenos Aires)

DE BUENOS AIRES A PENINSULA VALDEZ (PATAGÔNIA)

1.01.2009 – quinta-feira – oitavo dia – de Buenos Aires à Bahia Blanca (Argentina). 706 km rodados neste dia. Das 8h18 até às 20h45. Tempo total: 12h27 de viagem. 4.254 km desde Brasília, sendo 560 km no Uruguai e 724 km na Argentina.

(Mensagem do Flávio) –
a) Ano-Novo - como ontem foi festa de Ano-Novo, vamos começar falando de nossa última noite de 2008. Em Buenos Aires está quase tudo lotado e não é fácil conseguir reserva de última hora para a ceia de reveillon. Porém, conseguimos! Nas proximidades do nosso hotel (Grand Orly) havia o restaurante CeBleau, onde ainda havia vagas. Fomos agraciados com a presença, no mesmo local, da equipe belga de motociclismo que irá disputar o rally Dakar, versão inédita do Paris-Dakar em terras sul-americanas. A competição terá inicio aqui em Buenos Aires no dia 3. Batemos um papo com um dos pilotos em portunhol, francês e inglês e conseguimos nos entender com desenvoltura. Só para satisfazer a curiosidade de muitos, ficamos sabendo o seguinte: na competição não se pode usar GPS. O piloto recebe apenas uma planilha em papel, com 24 h de antecedência, com o trajeto da etapa a ser cumprida no dia seguinte. Eis aí um adicional de dificuldade que não conhecíamos. A equipe tem que ser rápida no planejamento. 9 em cada 10 pilotos preferem a KTM para esse tipo de prova. Talvez isso explique o porquê de essa moto estar vencendo quase todas as últimas versões do rally. Perguntamos a que velocidade média eles andam na areia e, pasmem, o cabra respondeu na maior tranquilidade que é por volta de 200 km/h.
b) Viagem de hoje – agora “Los 4 Panacas” não viajam mais sozinhos, têm 3 mulheres no pedaço, ou melhor, nas garupas. Apenas a Cássia, esposa do Zael, ainda não veio ao nosso encontro. Vai direto para Ushuaia de avião! Saímos de Buenos Aires em direção a Bahia Blanca um pouco depois das 8h. Logo que deixamos a capital, começamos a conviver com cenário repetitivo de planícies de perder de vista: pastagens, vacas e ovelhas quase o tempo todo. Vez por outra, para atenuar a mesmice da paisagem, surgiam plantações de girassóis ladeando a pista. A rodovia, uma reta sem fim em excelentes condições, nos proporcionou segurança e bocejos por todo trajeto de hoje. A temperatura manteve-se entre 18 e 25 graus, excelente para pilotar. O trajeto para Bahia Blanca, geralmente, é marcado pela presença de ventos fortes, mas demos sorte! Hoje não ventou em momento algum.
c) Hospedagem problemática - havíamos feito reserva no albergue “Bahia Blanca” desde Brasília, mas ao chegar no local, que decepção! Aparência de sujeira e desleixo, chuveiro em cima do vaso, roupa de cama fedida etc. Rosane e Neila imediatamente decidiram procurar outro local. Gláucio, Aline e Zael, já instalados em quartos “menos ruins” dos que foram reservados para nós, resolveram ficar. Aproveitei da garagem do albergue e fomos a pé para outra hospedagem (Bahia Hotel), a 8 quadras do local, que nos custou 120 pesos a mais. Dino e Neila também foram para lá. Marcamos de sair às 7h30, impreterivelmente, no dia seguinte.
(foto no Puerto Madero, no ano-novo; e na estrada)

2.01.2009 – sexta-feira – nono dia – de Bahia Blanca a Puerto Madryn (Argentina). 691 km rodados neste dia. Das 8h15 até às 20h16. Tempo total: 12h01 de viagem. 4.945 km desde Brasília, sendo 560 km no Uruguai e 1.415 km na Argentina.

(Mensagem do Flávio) – havíamos combinado de sair às 7h30 e tomamos cuidado para que o horário fosse cumprido, particularmente por termos dormido em hotéis diferentes, o que poderia dificultar o reencontro do grupo em horário tão cedo. O fato é que há diferentes sensos de “prontidão” entre nós e, por mais que se tente, não conseguimos ainda afinar nossos horários de saída, de parada para abastecimento, para almoços e lanches na estrada. Começamos o dia com controvérsias sobre isso. Saímos com 1 hora de atraso e, para piorar, gastamos mais de meia hora no trecho urbano de Bahia Blanca. Como resultado, dentre outras causas, tivemos que pilotar novamente por mais de 12 horas para chegar em Puerto Madryn, na Península Valdez da Patagônia.
a) Ventos – logo nos primeiros quilômetros após Bahia Blanca nos deparamos com vento enjoado, vindo do sudoeste e nos pegando de frente, que balançou as motos por 120 km. Não foi um obstáculo difícil de ser transposto, mas o resultado apareceu logo no primeiro abastecimento. Todas as motos tiveram consumo em torno de 14 km/l. Mais adiante o vento parou, retomando sua força nas proximidades de S. Antonio do Oeste, a 260 km de Puerto Madryn. Foi um período curto de ventania, se computado em distância, mas nos deu um aviso de que quanto mais ao sul, maior a sua força. Não havia combustível na rodovia e tivemos que entrar em S. Antonio para abastecer. Na Patagônia é comum grandes distâncias entre um posto e outro e, ainda, corre-se o risco de chegar em um deles e não encontrar gasolina. Há muitos carros a diesel na Argentina e, aparentemente, gasolina não é prioridade por aqui. Compramos galões adicionais para levar nas motos. Não há problema com a oferta de gasolina, mas excesso de procura, particularmente por causa do enorme fluxo de pessoas por causa do rally Dakar, que chega depois de amanhã a Puerto Madryn.
b) Patagônia – adentramos a Patagônia Argentina antes das 11h. Nossa emoção de estar aqui foi grande. Paramos ao lado da placa que anuncia o inicio da região na província de La Pampa e, logo atrás de nós, um casal de suíços (Emanuel e Adriana), numa moto BMW GS1200, também parou. Conversamos e tiramos fotografias. Muito bom encontrar pessoas parecidas conosco em nosso estilo de vida. O cenário continua repetitivo, porém agora predominam as estepes, a baixa umidade (entre 20 e 24%) e um calor que chegou aos 38 graus. Para quem pensa que a Patagônia só tem neve... O calor é de matar nas províncias de Rio Negro e Chubut. No mais, a vegetação é basicamente formada por arbustos espinhentos, muito parecidos com as juremas do sertão nordestino.


3.01.2009 – sábado – décimo dia – Parados em Puerto Madryn (Argentina).
(mensagem do Flávio) - Chegamos ao décimo dia de viagem com cômputo de mais de 84 h de estrada. Passamos mais tempo em cima da moto do que descansando. Uma experiência nova para mim. Agradeço muito a Deus por me permitir chegar aos quase 51 anos com a saúde excelente e com resistência suficiente para encarar esse batente.
a) Península Valdez – tivemos nosso primeiro contato com pinguins, lobos, leões e elefantes marinhos no dia de hoje (http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157608001548173/show/). Pelo caminho vimos guanacos, ñandus (espécie de Ema) e muitas criações de cordeiro. O prato “Cordeiro Patagônico” é mundialmente respeitado e aproveitamos nossa parada de almoço para experimentá-lo em um dos lugares mais tradicionais daqui, o restaurante La Elvira, localizado no meio da Península Valdez. Resolvemos contratar serviço de transporte para fazer esse passeio, que tomou a manhã e quase toda a tarde de hoje. Valeu a pena mesmo! Estamos precisando ficar um pouco longe das motos para reduzir o desgaste físico. À noite, vamos encarar uma mariscada, acho que o prato mais requisitado por aqui, porque estão exigindo reserva antecipada nos restaurantes locais.
b) Viagem do Dalton e Evânio – dois grandes amigos de Brasília também saíram para fazer uma viagem de moto parecida com a nossa para Ushuaia, porém por caminho diferente, descendo pelos Andes. Não tenho notícias recentes deles. A última foi a de que estavam em Mendoza, na Argentina. Se porventura eles lerem nosso blog, peço que enviem um email para nós. Devemos nos encontrar pelo caminho, provavelmente em Puerto Natales, no Chile.







Impressóes de um motociclista “zen” medo de ser feliz!

POSTADO EM 04.JANEIRO.2009
Por Glaucio Braga.
(desculpem os erros. Esse teclado em espanhol é o fim da picada!)

Olá amigos,
Desculpem a longa ausência sem informaçoes. A estrada tem sido dura para com “nós otros”. Temos pilotado muitas horas por dia, numa verdadeira maratona motociclistica. Mas, as dificultades, o cansaço, a fadiga acumulada nos vários dias de viagem já era uma coisa esperada. Contudo, o estresse de viagem tem se refletido muito no relacionamento entre os companheiros de estrada nessa literal eXpediçao ao fim do mundo, mesmo!
Eu e o Flavio, combinamos que caberia a ele a elaboraçao do diário de viagem puntual de cada trecho da expediçao em seu aspecto objetivo. Estarei escrevendo com um enfoque relacionado às sensaçoes, sentimentos e descobertas que uma “loucura” como essa desperta em nossos coraçoes e mentes.
Mas, mando o recado para nossos pais, irmaos, filhos, amigos e curiosos: Estamos adorando! Já vimos pinquins, lobos, elefantes e leoes marinhos. Guanacos, tatus, emas etc. Conhecemos tanta gente boa que nos têm ajudado com infomaçoes e apoio em nossa empreitada. Lugares incrìveis! Mas, isso pode ser lido no diário.

UMA AMERICA DE DESCOBERTAS

Estamos caminho de Ushuaia, a cidade mais próxima da Antártida no planta, e vamos de moto! Mas isso vocês já sabiam. Contudo, o que é difícil de explicar é o porque.
O que faz homens e mulheres adultos, trabalhadores responsáveis, deixarem o conforto de suas casas, o carinho de suas famílias e a segurança de suas “vidinhas rotineiras” em busca do que nao perderam no Fim do Mundo? Eu poderia argumentar dizendo que é o ímpeto aventureiro, a vontade de fazer o que ninguém faz, o desejo de ir onde poucos tiveram a coragem e obstinaçao para chegar… Porem, nao é só isso. Como disse o meu sogro, Coronel Dario, poderiamos fazer tudo isso dentro de um confortável automóvel, abrigados da chuva, do vento, do sol, comendo nosso sanduiches de atum e tomando coca-cola. Mas, existem razoes que desafiam a própria Razao. Eu vou tentar explicar, mas nao vai ser hoje, pois ja passa de 1h da manha e vamos estar na estrada para mais um exaustivo dia motociclístico antes das 7h. Só antecipo uma coisa: Uma viagem de moto como essa é uma jornada bem mais espiritual do que se poderia imaginar. É, ao mesmo tempo, bem menos a demonstraçao de nossa coragem embriagada de testosterona do que poderai parecer. Cruzar o continente e motocicleta é, sobretudo, um ato de fé.
Nas longas jornadas em terras longínquas, extrañas e muitas vezes inóspitas, nos confrontamos com dificultades muitos mais fortes do que poderaimos imaginar. Nos deparamos com nossos fantasmas pessoais, com nossas imperfeiçoes, vaidades, limitaçoes que de modo algum queremos desenterrar e, muito menos, tê-las expostas às pessoas que nos acompanham. Entao, com essas palavras, espero ter dado uma idéia a vocês, amigos e familiares que nos acompanham em nossos coraçoes por esta América de descobertas, uma idéia do que está por vir, uma noçao das possibilidades avassaladoras de crescimento espiritual que essa Ushuaia2009 está nos proporcionando.

Até a proxima.
GG.

SEPARAÇÃO DO GRUPO

POSTADO NO DIA 04 DE JANEIRO DE 2009
Ontem (dia 3.1.2009, no décimo dia de viagem), logo após eu ter atualizado o diário, por volta das 21 h, Gláucio convocou uma reunião para decretar que ele, Aline e Zael seguiriam separados de nós. Que o grupo estava desfeito a partir dali! Fui pego de surpresa, mas em viagens desse porte isso não é um acontecimento anormal, particularmente porque não houve um único dia até aqui sem muitos desencontros e discussões. É difícil a convivência entre diferentes egos e vontades. De qualquer forma, não desejo criticar ninguém, porque pretendo que esse registro seja algo importante para todos nós no futuro. Acho também que o respeito às nossas diferenças deve prevalecer sempre!
Sigo viagem com Rosane, Dino e Neila.

DE PUERTO MADRYN A USHUAIA

4.01.2009 – domingo – décimo-primeiro dia – de Puerto Madryn a 3 Cerros (Argentina). 734 km rodados neste dia, das 9h00h até às 19h40. Tempo total: 10h40 de viagem. 5.679 km desde Brasília, sendo 560 km no Uruguai e 2.149 km na Argentina.


(mensagem do Flávio) - Vamos direto ao diário de hoje.
a) Ventos II – pegamos ventos fortes para valer quase o dia inteiro. Acerca de 100 km de Comodoro Rivadávia, conhecida como a “Ciudad de los Vientos”, a situação piorou! Não tenho aparelho (anemômetro) para mensurar a força da ventania, mas tomando por base nossa vivência em Brasília, onde venta muito, creio que ficou entre 70 e 80 km/h. Fizemos manobras que desafiam as leis da Física, pilotando inclinados para a direita durante bastante tempo. Chegamos a fazer curvas de alta velocidade para a esquerda com a moto inclinada para a direita. Quem pilota sabe como isso é inusitado! Os ventos não sopram continuamente, mas em rajadas longas. Quando acreditamos ter encontrado uma posição confortável (inclinada) para enfrentá-los, eles simplesmente desaparecem e, se descuidarmos, vamos parar no chão ou fora da pista. Acabou sendo divertido no final das contas. Pensei que o desafio seria mais difícil. Lembro, porém, que não estamos no período de ventos fortes que, segundo informações obtidas ontem, vai até o mês de novembro.
b) Oceano da Patagônia – de Comodoro Rivadávia até Caleta Olívia a ruta 3 margeia o litoral. Um cenário belíssimo! Mar extremamente verde à esquerda e montanhas áridas à direita, cobertas por aquele arbusto espinhoso típico das estepes patagônicas. Piscinas naturais entre os arrecifes são característica marcante nesse trecho. A nossa chegada ao local se deu depois de horas a fio pilotando pelas planícies abertas. A beleza do mar serviu para reativar nossas baterias, já meio descarregadas depois da separação do grupo.
c) Em 3 Cerros - nossa intenção era dormir em Caleta Olívia, província de Santa Fé, mas aproveitamos o dia claro para seguir adiante. Lembro que por aqui o sol se põe por volta das 22 h (horário local). Paramos no hotel 3 Cerros, no meio das estepes. Hospedagem excelente para um local tão ermo. O preço é meio salgado, mas bem menor do que os das cidades vizinhas. Mesmo chorando um bom desconto, tivemos que pagar 150 pesos (R$ 105) o casal, sem direito a café da manhã.
d) Fazendo amigos pelo caminho – hoje foi o dia de muitos encontros com outros estradeiros: argentinos, chilenos, ingleses, alemães e brasileiros. Marcará nossa lembrança o bom humor do casal Rui e Teca, de Florianópolis, que viajam de automóvel; e a união familiar de dois motociclistas de Sertãozinho (SP), Adelino e Renato, pai e filho que viajam juntos em duas KTM990. Esses últimos estão vindo do Chile, depois de transitarem por toda a Carretera Austral (mais de 1000 km de rípio e ventania).




5.01.2009 – segunda – décimo-segundo dia – de 3 Cerros (Argentina) a Cerro Sombrero (Chile). 665 km rodados neste dia, das 9 h até às 21h40. Tempo total: 12h40 de viagem. 6.344 km desde Brasília, sendo 98 km no Chile, 560 km no Uruguai e 2.716 km na Argentina.

Passamos uma noite fria em 3 Cerros. A temperatura de madrugada foi de zero grau. Pegamos novamente a ruta 3, a partir das 9 h, encarando 12 graus, que iria piorar logo a frente, nas proximidades de Rio Gallegos, quando o termômetro registrou 6 graus positivos. Com a moto em movimento, a sensação térmica esteve bem abaixo de zero o tempo todo. Tivemos um pouco de trégua na força dos ventos, mas ele continuou lá nos incomodando, vindo do sudoeste andino e nos obrigando a pilotar “empenados” para a direita. O consumo da moto ficou na casa dos 11-12 km por litro. Impressionante a resistência eólica, nos impondo marchas fortes quase o tempo todo. Não raro andamos de terceira ou quarta marcha em velocidade por volta de 90 km/h.
b) Adentramos o Chile às 20 h, após exatos 69 km de Rio Gallegos, pelo Paso de La Integracion Austral, com 6.250 km rodados desde Brasília. Uma pista concretada e maravilhosa nos deu boas-vindas pelos quase 100 km rodados em território chileno. Chegamos à cidade de Cerro Sombrero, onde tem início o famigerado trecho de rípio (e de onde escrevo essa mensagem). Até aqui encontramos diversos motociclistas solitários pelo caminho. A grande maioria viaja em dupla ou em trio. Em quatro, não vimos nenhum grupo até então. Desses diálogos pela estrada, aprendemos que que não há ventos na Terra do Fogo entre 4 e 10 h da manhã. Que deveríamos usar desse horário para atravessar o rípio. Conselho registrado!.
c) Até chegarmos ao Chile, vimos muita chuva no horizonte, mas demos sorte! Excetuando em dois trechos que, somados, totalizaram 40 km (onde nos molhamos pra valer com uma aguinha que parecia ter saído do freezer), conseguimos atravessar incólumes as cortinas de água que caiam do céu.
d) Devo ressaltar que para chegar à Terra do Fogo da Argentina é necessário transitar bom pedaço pelo território chileno e atravessar o Estreito de Magalhães, por intermédio de uma balsa que sai de hora em hora. Novamente a sorte nos ajudou! Chegamos à balsa exatamente no momento em que estava partindo, quase fechando suas portas elevadiças aos veículos. Pagamos 29 pesos argentinos por cada moto pela travessia de meia hora. Um frio de trincar os ossos, de 5 graus. Mar revolto, ventania braba, um balança-mas-não-cai das motos no convés, que tiveram que ser seguras na munheca por nós mesmos. O serviço de transporte não oferece amarras para nenhum veículo, como acontece no Buquebus.
e) Gastamos apenas 1h20 nos trâmites da aduana argentina e chilena. Digo “apenas” porque as filas na fronteira mais parecem as do INSS do Brasil. Muitos ônibus e estradeiros transitando por aqui.
f) Chegamos a Cerro Sombrero sob frio de 6 graus. Dizem por aqui, que quando expostos ao vento, a sensação térmica gira em torno de 15 graus a menos do que a temperatura registrada no termômetro. Eu já peguei frio de 7 graus negativos no Atacama e o daqui é muito pior, posso garantir. Paramos no primeiro hotel que vimos pela frente, ao custo de US$ 65,00. Acho que se me cobrassem US$ 1000 acharia barato! Se continuássemos na estrada, certamente teríamos uma crise braba de hipotermia. (fotos na fronteira Argentina/Chile e na balsa que atravessa o Estreito de Magalhães)





6.01.2009 – terça – décimo terceiro dia – de Cerro Sombrero (Chile) a Ushuaia (Argentina). 567 km rodados neste dia, das 8 h até às 18h40. Tempo total: 10h40 de viagem. 6.911 km desde Brasília, sendo 237 km no Chile, 560 km no Uruguai, 3.144 km na Argentina e 2.970 km no Brasil.
Chegamos, enfim, à Cidade do Fim do Mundo, Ushuaia, a municipalidade mais ao sul do planeta Terra, por volta das 18 h (http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157608001552789/show/). Uma emoção de arrepiar todas as fibras do corpo e da alma. Infelizmente ou felizmente, cheguei sozinho com minha moto, com a Rosane na garupa. Para quem saiu de Brasília ao lado de outras 3 motocicletas, pareceu estranho aportar no destino maior da expedição, planejada durante 11 meses, sem os companheiros de largada. Na realidade, não cheguei só, mas acompanhado por um casal de ingleses, Steve e Debrah, que viajam em 2 hondas Transalp 650 desde o Alaska. Vou explicar adiante como essas duas pessoas maravilhosas surgiram em meu caminho.
b) Sobre o famigerado trecho de Rípio - choveu a noite toda em Cerro Sombrero, o ponto de início do temido rípio (espécie de cascalho). Preciso aproveitar desse diário para desmistificar algumas coisas. A grande maioria dos relatos da internet aborda esse trecho como um bicho-de-sete-cabeças. Muitos dizem que jamais se deve encará-lo sob chuva. Quando acordamos, estava tudo encharcado e, para piorar, uma chuvinha fina ainda caía sobre a cidade, deixando claro que a situação não iria mudar. Durante o café da manhã no hotel, Dino me avisou que não iria encarar o trecho naquelas condições. Uma TDM com pneu 100% asfalto não sobreviveria ao piso pedregoso e molhado. Ele já havia contatado com uma pessoa que faria o transporte de sua moto de caminhão até San Sebastian, local da aduana Chile-Argentina. Fiquei meio inseguro também, particularmente porque eu e Rosane teríamos que encarar esse desafio sozinhos, sem saber ao certo o que nos aguardava mais a frente.
c) Porém, a sorte habitual que me acompanha apontou a solução. Lá estavam no estacionamento do nosso hotel (Talkeynen) o casal de ingleses Steve e Debrah, montando a bagagem em suas duas motos. Nos aproximamos para perguntar a opinião deles sobre como era trafegar no rípio molhado e, para minha alegria, eles estavam partindo naquele momento para Ushuaia. Pedi para ir junto e fui bem-vindo ao pequeno bonde. E lá fomos nós rípio adentro. Steve foi na frente, conduzindo a moto bem mais devagar que o necessário. No transcorrer dos 138 km desse trecho não-pavimentado, percebi que a maioria dos relatos que li não correspondiam à realidade dos fatos. Esse tal de rípio, neste trecho obrigatório para chegar a Ushuaia, é mamão-com-açúcar mesmo! Até motos esportivas, com o devido cuidado, transitariam por aqui sem qualquer problema. O trecho é melhor que muitas rodovias asfaltadas do Brasil. Dino havia se preocupado à toa. Pegamos uma garoa fina durante grande parte do caminho, fazendo a temperatura cair aos 4 graus, mas com pouquíssimo vento. Eu e Rosane concordamos que foi o trecho mais prazeroso até aqui, por conta das belezas da vegetação, dos guanacos e cordeiros, dos lagos e rios que ladeiam a pista durante o percurso. Uma verdadeira viagem... Em todos os sentidos! No mais, pilotar no rípio molhado é muito melhor que no seco, porque a areia que existe sob o cascalho fica mais compactada.
c) Chegando a Ushuaia – levamos cerca de 2h20 para atravessar o famigerado rípio. Gastamos outras 2 h em dois procedimentos aduaneiros e, quando chegamos ao lado argentino de San Sebastian, a fome e a sede eram de matar. Steve e Debrah, sempre solidários, ficavam nos esperando pacientemente para seguirmos juntos, mesmo no asfalto. Liberei-os desse compromisso porque pretendíamos fazer um lanche reforçado antes de encarar os 310 km pavimentados até Ushuaia. Tivemos que atravessar parte da Cordilheira dos Andes para chegar lá (ou aqui, de onde escrevo esta mensagem), um trecho belíssimo conhecido como Paso Garibaldi. Não tenho qualquer dúvida de que foi o cenário mais fantástico que vi até este momento. A montanhas nevadas, os lagos Fagnano e Escondido vistos das alturas, as árvores e a vegetação totalmente diferentes das que se veem em outras partes do mundo, os rios e córregos nascidos do degelo andino, os pássaros e outros bichos são maravilhas impossíveis e descrever por palavras. Certamente, iremos dormir enlevados por essas belezas.
d) Sobre os ventos – se há muito exagero quanto ao rípio, no quesito “ventos”, percebo que os relatos são bastante fidedignos. Desde Bahia Blanca, a 2.500 km, o vento se tornou um parceiro bastante constante (e indesejado). O pneu traseiro da minha moto encontra-se visivelmente carcomido em sua banda direita. Pilotar “empenado” parece coisa de circo, mas foi fato real na quase totalidade da ruta 3, que nos trouxe a Ushuaia. Depois que passa, tudo vira festa, mas foi um osso duro de roer enquanto estivemos sob os auspícios da ventania.
e) Estou no hotel Ushuaia Green House, no sopé da Cordilheira dos Andes, que contratei pelo convênio da Bancorbrás. Daqui da janela do quarto vejo um punhado de montanhas nevadas. Já sinto pena antecipadamente de ter que deixar esse paraíso daqui a 3 dias.
Obs.: soube há pouco que o Dino não conseguiu transportar sua moto e veio pilotando mesmo. Chegou a Ushuaia por volta das 22 h. Está hospedado no hotel Los Rocios, o mesmo do Zael e Cássia.
(fotos no rípio, dos amigos ingleses Steve e Debrah e das montanhas andinas de Ushuaia)









PASSEIOS EM USHUAIA

7 e 8.01.2009 - décimo quarto e décimo quinto dias de viagem - Parados em Ushuaia

(Mensagem do Flávio Faria)
Nossos ex-parceiros chegaram bem a Ushuaia a 1 h da madrugada do dia 7. Cássia, que veio de avião até aqui, teve problemas ao descer na cidade. O pouso se deu em Rio Grande e os passageiros vieram de ônibus para Ushuaia (problemas no radar do aeroporto local). Gláucio e Aline estão no hostel Antartida, e Zael e Cássia no Los Rocios, o mesmo que Dino e Neila.
b) Esses dois dias em Ushuaia foram os mais caros de todas as viagens que fiz. Aqui era o antigo habitat dos índios Yámanas (pronuncia-se Jâmanas) que Charles Darwin teve contato quando viajou pelo mundo a bordo do navio HMS Beagle, capitaneado pelo comandante inglês Fitz Roy. O nome do canal (Beagle) é uma homenagem a esta embarcação. A cidade, apesar de ser uma zona franca (sem tributos), pratica preços abusivos em quase tudo. Acho que estamos pagando até pelo ar que se respira. Porém, já que estamos aqui não pudemos deixar de realizar algumas experiências, a custo de Nababo. Comemos trutas, cordeiro fueguino e centolla. Tudo de uma forma muito frugal, degustativa. Pedíamos apenas 1 prato mais caro e experimentávamos cada qual um pouquinho, mais com a finalidade de investigar os sabores locais. Cá para nós, excetuando o cordeiro fueguino, os demais pratos têm uma fama que não condiz com seu real sabor.
c) Para minha agradável surpresa, encontrei com o baixista Tony Botelho no momento em que entrava em um restaurante. Trata-se de um ser humano e músico fantástico, que estudou e tocou bastante tempo na Europa e que, atualmente, reside no Rio. Tive a alegria de tê-lo em minha banda em 1988, em Brasília, quando eu era músico de verdade. Muito bom encontrar amigos em terras tão distantes.
d) Começamos o dia 7 tentando ir ao Parque do Fin del Mundo, mas os ventos e o céu encoberto nos desanimaram. Havíamos contratado um passeio marítimo pelo Canal de Beagle para as 15 h. O tempo estava esprimido para fazer os dois deslocamentos. Resolvemos ir conhecer o centro de Ushuaia, famoso por suas lojas e restaurantes. Encontramos com o Dino e Neila na Av. San Martin. Fomos almoçar num restaurante bastante tradicional daqui, Bodegon Fueguino, onde experimentamos 3 variedades de Cordeiro. Este prato por aqui é bem melhor que o patagônico. A carne é mais macia e mais gorda. A Terra del Fuego (de onde vem o "fueguino") é rica em água e pastagens, diferente da Patagônia, do outro lado da ilha, onde a aridez e a vegetação pobre predominam.
e) Às 15 h, pontualmente, o Rumbo Sur, barco que nos levaria ao passeio de 6 h pelo Canal de Beagle, partiu do porto de Ushuaia http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157612975622615/show/). Custou-nos 200 pesos per capita, mas valeu a pena! Transitamos por diversas ilhas, passamos por Puerto Willians (povoado bem mais próximo da Antártida que Ushuaia), vimos lobos e leões marinhos, pinguins e um pássaro da mesma família do pinguim, mas que voa, conhecidos como "carmoranes" (é o próprio pinguim com asas). O ponto alto do passeio é a Isla Martillo, onde pudemos ver uma pinguineira com centenas de animais bem de perto. Conhecemos os pinguins de magalhães e o Papua (Gentoo), um tipo maior com o bico alaranjado, que pode chegar a 80 cm de altura.
f) No dia 8, pela manhã, fomos trocar o óleo da moto na oficina do Pablo (Moto Pablo) e aproveitamos a tarde para conhecer o Parque do Fim do Mundo. Logo na entrada nos foram cobrados 50 pesos de cada um. Uma vegetação exuberante, composta basicamente de pinheiros patagônicos, nos envolve por completo. Lagos, árvores, pássaros, coelhos, raposas e castores são comuns na área. Vimos, a olho-nu, o ponto em que o continente americano termina. Uma emoção danada de boa. Como nossa América é linda! Quanta diversidade, quantos cenários fantásticos, quantas culturas maravilhosas para compartilhar.
g) Esta será nossa última noite por aqui. Amanhã iremos para Punta Arenas, no Chile. Ficamos sabendo que os eletrônicos por lá são muitíssimo baratos. Se houver o produto, pretendo comprar um GPS com tela maior. Minha vista já acabou faz alguns anos e não aguento mais pilotar com óculos de leitura na ponta do nariz só para enxergar a telinha do GPS. Já que estou na chuva, vou me molhar mesmo! Minha poupança de 10 meses destinada a esta viagem está chegando ao fim.
(fotos do passeio pelo Canal de Beagle e no Parque do Fim do Mundo)

DE USHUAIA A TORRES DEL PAINE

9.01.2009 – sexta – décimo sexto dia – de Ushuaia (Argentina) a Punta Arenas (Chile). 659 km rodados neste dia, das 8h33 até às 21h40. Tempo total: 13h07 de viagem. 7.570 km desde Brasília, sendo 593 km no Chile, 560 km no Uruguai, 3.447 km na Argentina e 2.970 km no Brasil.

(Mensagem do Flávio Faria)
Saímos de Ushuaia às 8 e meia para encarar o trecho mais duro de toda a nossa viagem até aqui. A temperatura era de 10 graus e chegou aos 4 na travessia do Paso Garibaldi, onde atingimos altitude próxima aos 2.900 m. A sensação térmica com a moto em movimento é terrível! Rosane chegou a chorar de tanto frio. Mesmo considerando a evolução da indústria têxtil em vestimentas próprias para motociclismo, a proteção das mãos ainda carece de ser aperfeiçoada. O frio congela os dedos, independentemente das camadas de luvas colocadas sobre eles. Tivemos que parar por mais de 1 hora em Rio Grande para nos recompor fisicamente. Muito chocolate quente e whisky. Tive a feliz ideia de levar uma garrafinha comigo para ocasiões desse tipo, e valeu a pena. A bebida destilada já salvou muita gente da morte por hipotermia. Seguimos mais devagar até a fronteira chilena, tentando sobreviver ao vento que agora nos pega pela esquerda. Lá vamos nós, pilotando com as motos inclinadas. Novamente encaramos os 138 km de rípio de San Sebastian até Cerro Sombrero. Foi diferente da vinda, porque não houve chuva e a poeira nos pegou feio pelo caminho. Ficamos imundos até a alma! Para piorar, bastou chegar em Cerro Sombrero para cair uma chuva daquelas. Daí o pior resultado: a roupa empoeirada, depois do contato com os pingos d’água, ficou toda enlameada. Pensei que seria difícil ser aceito em restaurantes ou hotéis nessa situação, mas não foi. O povo chileno por aqui é muito simpático e admira bastante os estradeiros.
b) Na fronteira do Chile reencontramos nossos companheiros Gláucio, Aline, Zael e Cássia. Não nos víamos desde o dia 3. Andamos juntos até Punta Arenas, de onde escrevo essa mensagem de hoje. Nesta cidade, ficamos hospedados numa espécie de pensão (Sandy Point), que parece ser a forma mais comum de hospedagem por aqui. Uma família monta seu próprio negócio e destina alguns quartos de sua casa aos turistas. Uma espécie de pensão, com banheiro compartilhado, que custou US$ 40 a diária.
c) A chegada a Punta Arenas se deu através de um dos visuais marcantes dessa viagem. Grande parte da rodovia passa rente ao mar, algo em torno de 10 metros. Nós brasileiros, que estamos acostumados com aquele ventinho gostoso vindo do oceano, achamos curioso que o vento vem em sentido contrário, nos empurrando em direção ao mar. É o inverso do que ocorre em nosso país.
d) Tive um prejuízo fantástico no dia de hoje. Minha máquina fotográfica caiu da moto, sem eu perceber. O vento danado arranca tudo do nosso corpo sem que a gente note. Velcro, barbante e outras amarrações não são suficientes para nossa proteção. Essa viagem está sendo muito particular no quesito “perdas e danos”. Já foram pro espaço o protetor de pescoço da Rosane, a almofada de gel, balaclava, suporte de máquina fotográfica, calibrador, pedestal e outras coisas miúdas. Amanhã vou sair para comprar outra câmera, porque sem fotos não dá mesmo para ficar.
(fotos do estaleiro de Punta Arenas e de guanacos na estrada)




10.01.2009 – sábado – décimo-sexto dia – de Punta Arenas a Puerto Natales (Chile). 255 km rodados neste dia, das 12h20 até às 15h46. Tempo total: 3h26 de viagem. 7.711 km desde Brasília, sendo 848 km no Chile, 560 km no Uruguai, 3.333 km na Argentina e 2.970 km no Brasil.

(Mensagem do Flávio) - Saímos de Punta Arenas encarando o pior vento de todos. Impressionante! Certamente ele vinha por volta de 90 km/h, fazendo parecer que os ventos da Argentina não passavam de brisa se comparados a ele. Já estamos meio calejados nesse enfrentamento, mas agora nos readaptando a navegar com o “maledicto” vindo de frente pela nossa meia-esquerda. Parar a moto no acostamento se configura impossível! Vai pro chão mesmo, sem qualquer dúvida! Pilotando a gente encontra um meio de driblar a fera, dando um jeitinho de a moto “furar” sua resistência. Ficar parado nem pensar!
b) Pela manhã fui à zona franca de Punta Arenas e comprei outra câmera. O preço de lá não é bom. Os demais produtos que vi tinham preços maiores dos que os da Feira do Paraguai, em Brasília. Uma decepção!
c) Galera, Puerto Natales é fantasticamente linda! Aqui é o local mais próximo do famoso Parque Torres del Paine, que iremos conhecer amanhã. O mar, de coloração verde intensa, é envolvido por montanhas altíssimas com os cumes cobertos de neve. Um cenário de pirar! As fotos falarão por si. Estamos no albergue Nikos II Adventure (50.000 pesos chilenos o casal/dia) e todo o nosso grupo do Projeto Xshuaia2009, que saiu junto de Brasília, ficará por aqui hoje e amanhã. Dalton e Evânio, que fazem a mesma viagem que a gente por caminhos diferentes, chegaram à noite no hotel, mas já estavam na cidade há algum tempo e foram passear no Parque das Torres del Paine antes de virem para cá.
d) Eu e Gláucio tivemos uma conversa sincera e emotiva a respeito da separação do nosso grupo no dia 3 (há uma semana). Ele teve uma iniciativa bacana, que eu não teria. Viajando em grupo a gente sempre aprende algo de bom e esse foi um momento muito especial. Resolvemos que o Projeto Xshuaia 2009 continua de pé, mesmo dividido em 2 bondes. Não existe nenhum ressentimento entre nós, mesmo porque não há como reter sentimentos negativos dentro deste cenário mágico, uma obra magnífica da criação divina, que supera tudo de maravilhoso que vimos até hoje em nossas vidas.

11.01.2009 – domingo – décimo-sétimo dia – CONHECENDO AS TORRES DEL PAINE

(Mensagem do Flávio Faria)
Nosso grupo voltou a estar completo no passeio de hoje. Muito bom estar juntos no mesmo time que saiu de Brasília. Fomos de van ao Parque Torres del Paine realizar o passeio de um dia inteiro, ao custo de US$ 30 per capita. Mais uma vez fomos surpreendidos por outro cenário maravilhoso. De tudo o que vimos até aqui, esse foi o mais pitoresco! http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157613016603250/show/
b) Começamos o tour indo visitar a Cueva del Milodon, uma caverna onde habitava a pré-histórica preguiça gigante (Milodon), cuja ossada foi levada para Londres por Perito Moreno. Por aqui só ficou a caverna. O esqueleto do bicho foi-se embora para a Europa, como a maior parte das riquezas da nossa América do Sul.
c) Mais adiante, adentramos um cenário fantástico de lagos, cachoeiras e montanhas nevadas. De qualquer canto dá para ver a cadeia de montanhas conhecida por Torres del Paine. Uma beleza que, confesso, sou incompetente para descrever. Olhem aí as fotos que ela falam por si.
d) Outra surpresa nos aguardava mais a frente, no Lago Grey. Lá pudemos ver icebergs de coloração azul intensa flutuando. A cor azulada pertence a uma categoria de gelo da última glaciação da Terra. Teoricamente, esses icebergs possuem idade em torno de 70 mil anos. Agora, vou confessar o seguinte. Já sabíamos desse encontro e providenciamos uma garrafa de whisky para tomar com o gelo desprendido do glaciar. Imaginem só! Um whiskinho com um gelinho de 70 mil anos no final de tarde. É ou não é uma coisa fantástica?
e) Hoje entendo com mais profundidade as palavras de Amyr Klink quando diz que um homem precisa viajar “por si” e não apenas por imagens de TV, por livros ou por revistas. Ver de perto, estar próximo, sentir a brisa, o paladar, as emoções de cada instante fazem a vida valer a pena.

(fotos diversas no Parque Torres del Paine)









DE PUERTO NATALES AO GLACIAR PERITO MORENO

12 e 13.01.2009 – segunda e terça – décimo nono e vigésimo dias – de Puerto Natales (Chile) a El Calafate (Argentina). 549 km rodados neste dia, das 7h56 até às 13h07. Tempo total: 5:02h de viagem. 8.374 km desde Brasília, sendo 890 km no Chile, 560 km no Uruguai, 3.954 km na Argentina e 2.970 km no Brasil.
No dia 12, antes das 8 h, eu, Rosane, Dino e Neila saímos de Puerto Natales um pouco na frente do bonde de Gláucio, Aline, Zael e Cássia, que partiria cerca de 30 minutos depois. Um dia digno de comemoração! Não houve ventos durante todo o percurso! Uma temperatura “confortável” de 13 graus nos acompanhou até La Esperanza, a 160 km daqui de El Calafate. Depois de tanto tempo sentindo frio na estrada, pilotar a 13 graus já pode ser considerado algo digno de festa. A ausência de ventos nos permitiu acelerar forte. Já havia me esquecido como era gostoso navegar a 140 km/h por longo tempo.
b) Deixamos o Chile, para não mais voltar nessa viagem, pelo posto alfandegário de Dorotea. A funcionária da saúde pública nos exigiu que apresentássemos atestado de vacina contra febre-amarela. Achei inusitado, porque isso não nos foi pedido na entrada do país. Tentei argumentar que esse tipo de procedimento é exigido para “adentrar” no território e não para “sair”. Ela não quis saber de conversa e tivemos que mostrar o documento, embora ele não fosse obrigatório. Já constatei a falta de bom-senso na burocracia chilena há muito. Quando estivemos no Atacama, em 2007, outra funcionária da mesma saúde pública “desmontou” a nossa bagagem em busca de produtos de origem animal. Verificou peça por peça das nossas roupas e equipamentos. Naquela oportunidade perdemos 2 h nesse ritual de monta-e-desmonta malas. Fiquei preocupado desta vez, porque não tinha certeza se nossos amigos que vinham atrás tinham providenciado a tal vacina antes de deixarem o Brasil. Minha preocupação foi desnecessária, porque eles não fizeram o mesmo trajeto que nós e saíram do Chile por outro ponto da fronteira, sem qualquer dificuldade.

Todo o nosso grupo (menos Dino e Neila, que estão na pousada San Julian) está hospedado no hotel Koi-Aiken, outro local maravilhoso propiciado pelo convênio com a Bancorbrás.

EM EL CALAFATE – CONHECENDO O GLACIAR PERITO MORENO -


Chegamos em El Calafate por volta das 13 h, almoçamos e resolvemos ir logo conhecer o Glaciar Perito Moreno, cerca de 80 km da cidade. Torcíamos para que o bonde dos nossos amigos chegasse logo para que houvesse tempo para irmos todos juntos. Passaram-se 2 h e ninguém apareceu. Sendo assim, fomos nós: eu, Rosane, Dino e Neila.
Bom, não quero ser redundante, me valendo de superlativos para descrever o local. Acho que todo exagero seria insuficiente para narrar o impacto visual e emocional desse primeiro contato com o Glaciar. Lembro que o Perito Moreno é um dos dois blocos de gelo do planeta que ainda continua crescendo em tamanho, apesar do aquecimento global. Trata-se de uma estrutura de gelo azul (da Era Glacial) com cerca de 5 km de extensão e 60 m de altura, localizada no Lago Argentino. Algo que só existe por aqui e no mundo dos sonhos. Estou postando umas fotos para que cada leitor produza suas impressões. O fato, contudo, é que o que nos marca a alma é vê-lo ao vivo e a cores. O trajeto até o Perito é outra beleza a parte, muitas curvas, montanhas nevadas, com a pista quase toda edificada nas bordas do Lago Argentino. Esse lago possui uma coloração rara, que se altera em cada trecho: azul marinho, azul ciam e verde-claro. http://www.flickr.com/photos/24062165@N06/sets/72157613018118758/show/
No dia 13, todo o grupo Xshuaia2009 (menos eu e Rosane) foi fazer a caminhada sobre o Glaciar a um precinho salgado de 410 pesos argentinos por pessoa (R$ 290,00). Eu e Rosane ficamos em El Calafate, descansando e curtindo um pouco a cidade. Acho que perdemos um passeio fantástico, mas aproveitei o dia para dar uma geral na moto e me refazer fisicamente. Achei importante dar uma paradinha básica (e econômica) na correria do dia-a-dia desta viagem. A minha moto XT660 só agora, depois de 8.200 km rodados e trabalhando no limite do esforço por diversos dias consecutivos, precisou de um pequeno ajuste na corrente. (fotos da estrada, do Lago Argentino e do Glaciar Perito Moreno)